terça-feira, 19 de abril de 2011

Casou com o Ativo? Então, peça o divórcio!


Este artigo é direcionado às pessoas que entram em uma operação, seja comprada ou vendida, e permitem que o manejo de risco saia de controle. Nesse momento, as perdas acumuladas no trade não são mais suportáveis, pois vão bem além do pior cenário imaginado quando de seu início.

Não importa se seu stop foi "pulado", ou ainda desativado propositalmente por achar que o mercado caminharia conforme sua torcida. Irrelevante também se você simplesmente não usa stop (posicionamento que espero,  seja revisto). O fato é que agora você está "casado" com o ativo e acredita que "ficou para longo prazo". Estas são expressões perigosas e comumente usadas por quem acredita (ou quer acreditar) que ainda pode encerrar uma operação, claramente mal sucedida, sem perdas ou até mesmo com algum lucro. O problema é que as estatísticas, frias e desprovidas de emoção como são, estão contra você.
Claro, algumas vezes isso ocorre de fato. Mas na grande maioria das vezes, o que acontece é que o prejuízo continua a aumentar cada vez mais, até um ponto em que a "dor" torna-se insuportável. É só então que você, agonizante, resolve encerrar a operação e contabilizar o enorme rombo em suas finanças. Curiosamente, em muitos desses casos, os preços acabam retornando ao menos a seu valor de entrada, o que reforça a falsa impressão de que o stop não deveria ter sido usado. Mas então, onde está a falha dessa lógica?
Na verdade, o problema não foi ser estopado, e sim o momento em que isso ocorreu. Se a operação tivesse sido encerrada com uma pequena perda aceitável, no mínimo você teria seu capital disponível para entrar em outras tantas, certamente mais vantajosas. Sem falar que a cotação pode levar uma eternidade para voltar a seu ponto de entrada (meses, quem sabe até anos) ou simplesmente nunca retornar.


$ Já estou "preso" na operação: o que fazer?
Bem, agora que o momento de uma saída honrosa já passou, a pior coisa que você pode fazer é se desesperar. Geralmente é dessa forma que tomamos as decisões mais impensadas.
O primeiro passo é verificar o tamanho do problema. Se o ponto de estope não estiver muito longe ou as perdas ainda forem assimiláveis, encerre a operação o quanto antes. Isso mesmo: simples assim. 
É doloroso, mas enquanto você estiver pensando no que fazer o problema pode se agravar como uma bola de neve. É preciso saber que se já é difícil salvar um "doente terminal", ressucitá-lo é tarefa divina. Ou seja, melhor assumir outra perda menor que tentar inventar uma estratégia. Entenda essa perda adicional como o pagamento de uma preciosa lição: Evitar vivenciar a mesma situação no futuro.


$ As perdas ficaram grandes demais: posso minimizá-las?
Se o ponto de sair da operação está tão distante que as perdas seriam muito severas para serem absorvidas, chegou a hora de criar um novo setup a partir de sua condição. Já que você comprou "limões", vamos tentar fazer uma limonada. Para isso, existem três possíveis estratégias que podem ser adotadas, preferencialmente na ordem em que estão descritas:


1o) Criando um SETUP válido (de swing ou position)


Agora que o ativo está evoluindo "por conta própria", não é possível chamá-lo de trade: aposta seria mais adequado. Então, vamos tentar transformar essa aposta em um investimento de curto/médio prazo novamente por meio de uma das diversas estratégias que você está acostumado a operar. 
Para facilitar a compreensão por analogia, imagine uma situação hipotética referente à compra de sapatos novos para presentear a um ente querido. O procedimento padrão seria imaginar a pessoa em questão e, sabedor do seu tamanho de calçado, comprar o número correspondente para um perfeito encaixe. Agora, imagine que a pessoa em questão está em fase de crescimento e o presente, por alguma razão, não foi entregue no curto prazo. Não é preciso muita ponderação para saber que não vai servir. Como não existe mágica, o que podemos fazer é descobrir a numeração dos outros membros da família e, em encontrando um número compatível, modificar o beneficiário do presente. 
Ou seja, não importa se o gráfico terá periodicidade diária ou semanal, nem mesmo o setup escolhido (gráfico puro, Fibonacci, IFR2, cruzamento de médias, ondas de Gann, risco x retorno, etc). É preciso ter consciência que estamos buscando adequar um gráfico a um trade system, e não o oposto, como seria natural. 
O segredo está em tentar conceber que o ativo acabou de ser adquirido. Esqueça o quão grande foi a queda desde sua ordem de compra  e concentre-se nas possibilidades futuras de ganhos e de perdas. A partir daí, teste os diversos setups que você utiliza em suas operações e verifique qual poderia ser aplicado àquela situação particular, como um trade ainda em andamento. A partir desse ponto, definidos novos alvos e STOP, não há muito mais a acrescentar. Siga a estratégia adotada com disciplina e recobre a objetividade na negociação. Se o novo alvo, ainda que atingido, não representar uma boa recuperação do prejuízo, o que pode ser feito é a elevação periódica do STOP seguindo algum tipo de critério.
Ilustrando a estratégia com um exemplo, admita que você comprou ações da Gafisa (GFSA3), em meados de 2009, por setup de formação de pivô no gráfico semanal, no rompimento de R$ 12,00. O mesmo valor poderia ser aceito para uma compra em fundo duplo no gráfico diário de 2010. A princípio, o trade até evoluiu, mas você não vendeu o ativo. Então, algo terrível acontece. O papel inicia uma queda vigorosa, e você não aciona o STOP. Hoje, o papel está sendo negociado próximo a R$ 10,00 e as perdas acumuladas já representam quase 20% do capital incial. O que fazer? Bem, resta claro que o papel está testando uma região de fundo de congestão, em 9,70. Admitindo que a compra foi feita no melhor momento de hoje, o SETUP GRÁFICO seria estabelecer um alvo em R$ 11,36 (próximo ao último topo) e um STOP DE FECHAMENTO na perda de 9,70. A partir desse ponto, persiga esse objetivo. Se ainda pretender sair do negócio com lucro, pode até não encerrar no alvo, mas suba consideravelmente seu STOP.


Clique na imagem para ver ampliada


2o) Estabelecendo um STOP alternativo e independente


Existem casos mais complexos, onde simplesmente não é possível relacionar o ativo analisado com qualquer modalidade de setup gráfico. Normalmente verificamos essa situação quando o ativo está em tendência clara (e forte) de baixa. Mas não é porque um SETUP não pode ser definido que devemos deixar a ação "à deriva". Deve-se, no mínimo, estabelecer um ponto de STOP enquanto aguarda que o gráfico mostre condições para um novo SETUP. Mas sem referências, ou com essas distantes demais, como estabelecer este STOP?
O primeiro passo é criar uma aba em sua plataforma gráfica e configurá-la para exibir simultaneamente os STOPS mais elaborados e móveis (como o HiLo, ATR e  SAR). Para saber mais sobre esses tipos de STOPS, consulte o "STOPS: Tipos e Formas". Caso não disponha de uma plataforma gráfica, recomendo a instalação da gratuita MetaStock ou mesmo a utilização da Apligraf, disponível nos home brokers.
Agora, basta verificar se algum desses stops ainda é válido para o "trade", e a partir desse ponto, segui-lo. A periodicidade do gráfico também pode ser alterada (diário ou semanal) Para exemplificar, vejamos a situação aplicada ao gráfico de Confab (CNFB4). Procurando por um possível ponto de saída, podemos verificar que os STOPS ATR e SAR ainda são válidos. Escolha um a seu critério, e siga-o. Neste caso específico, a perda de 4,53 em fechamento, acionam o STOP SAR Parabólico. Ou seja, a saída do papel. Perceba que um STOP gráfico não seria possível, pois a relação risco retorno restaria comprometida.
Vale lembrar que, em se tratando desse tipo de STOP, o acompanhamento deve seguir o fechamento da periodicidade gráfica escolhida, seja diária ou semanal.


Clique na imagem para ver ampliada




3o) STOP percentual: A última fronteira


Caso a situação seja tão crítica que não exista alternativa gráfica viável, esta seria uma última estratégia possível. Embora seja a mais simples, certamente é a mais precária. Antes de adotá-la, é necessária uma segunda ponderação sobre a possibilidade de encerrar a operação de imediato.
Implemente um STOP percentual com limite máximo de 2% a 3% abaixo da cotação atual. É o caso de Lupatech (LUPA3) que está sendo negociada abaixo da cotação mínima histórica.
Como todo analista técnico clássico, não utilizo ou recomendo a estratégia de preço médio para baixo. Contudo, em casos muito singulares e, desde que feito uma unica vez, pode-se considerar a alternativa. Atente que essa é uma medida EXTREMA, que só deve ser adotada por investidores de longo prazo que pretendem viabilizar uma saída de curto prazo.


Clique na imagem para ver ampliada


E você, guerreiro... já passou ou está passando por situação semelhante? Desenvolveu um método próprio para esses infortúnios? Conte aqui!


Nenhum comentário:

Postar um comentário