segunda-feira, 27 de junho de 2011

Montando uma carteira de investimento


Agora que os guerreiros sabem como analisar uma empresa e já dispõem das ferramentas necessárias para tanto (se não, leia os artigos anteriores da Coluna Análise Fundamentalista), vamos dar continuidade falando sobre a construção da sua carteira de investimentos, focada em análise fundamentalista e com objetivo de longo prazo.

Seleções das ações / Estratégia - Nos artigos anteriores, já falamos sobre as estratégias envolvidas na análise de uma empresa, selecionando entre crescimento, valor e dividendos, e na escolha de empresas com mais de um tipo de foco. Neste caso, o foco da estratégia escolhida vai depender do perfil do investir. Uma pessoa mais conservadora montará uma carteira com pelo menos 2/3 das empresas com foco em Dividendos e/ou Valor, ao passo que um investidor mais agressivo vai dar prioridade a empresas com foco de crescimento. A escolha do foco da empresa é muito pessoal, mas lembre-se de utilizar os indicadores e a planilha para análise da empresa, e que esta se enquadre nos padrões de atratividade de investimento. Uma frase para refletir retirada do livro do Lueders, autor do livro Investindo em Small Caps: risco depende de conhecimento.

Diversificação - Este é um assunto bem controverso. Alguns pregam concentração da carteira; outros muita diversificação de ações. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens. Uma diversificação maior dilui o seu risco, mas a maioria das fortunas foram feitas com base na concentração dos investimentos. Então quantas ações devo ter na carteira? Não existe regra, mas eu vou deixar minha opinião. Não recomendo a um pequeno investidor, com um patrimônio para investimentos de até R$ 50 mil, que este diversifique muito. Tente concentrar sua carteira em no máximo 4 ou 5 ações. Mas para isso estude bastante qual empresas investir. Além disso, escolha empresas de setores diferentes para diminuir o seu risco setorial. 

O Lirio Parisotto, que é o maior investidor pessoa física do país, com um patrimônio superior a 2 bilhões, diz o seguinte: "Acredito que a diversificação é eficaz para a proteção do patrimônio, mas a idéia de investimento seguro é falsa, já que dificilmente você conhecerá a fundo todas as empresas que você estiver investindo. Investir em 4, 5 empresas, é uma boa pedida. Dá pra acompanhar numa boa. Mas investir em 20, 30 empresas, é extremamente arriscado. Como você irá acompanhar de perto todas elas? É impossível". Já Lueders é a favor da diversificação, e diz o seguinte: "Graham foi um exemplo de investidor de sucesso que utilizou amplamente a diversificação, focando a compra de empresas com margem de segurança e utilizando a abordagem atuarial. Os lucros obtidos pelos investimentos que apresentavam êxito eram suficientes para compensar suas perdas". 

Liquidez - O forista Domingos Junqueira criou uma regra para determinarmos um teto para investimento em uma small caps com segurança. A regra é a seguinte: limite máximo de investimento de 10% do volume financeiro médio diário do mês anterior da empresa, ou a média dos dois últimos meses (este dado é fornecido pelo site Fundamentus).
Exemplo: MEND6 - Valor médio diário do mês de maio foi de R$ 10.580,00 * 10% = R$ 1.058,00. Este seria o valor máximo para investir nesta ação para não ter um risco muito alto de liquidez caso queira sair do papel em um momento de alta volatilidade. 

Momento de compra e venda - Na teoria é muito simples: compre na baixa e venda na alta. Mas como identificar estes momentos? Para a compra é só usar os parâmetros de atratividade que explicamos nos artigos anteriores, selecionando empresas com alto potencial de valorização com base em fundamentos. Mas e para venda, como reagir?

Aqui vou deixar minha estratégia pessoal: eu só vendo um ativo na carteira se ocorrem um ou mais deste motivos: - o ativo chegou no meu preço alvo; - piora nos indicadores da empresa ou perspectivas ruins para a empresa / setor; - surgir um ativo mais atrativo para investimento; 
Neste caso, diversas vezes já deixei de vender um ativo após este deixar sinal de topo, mas eu não recomendo ao investidor ficar tentando acertar vender ativos na máxima e comprar na mínima. Em alguns casos, irá ter sucesso, porém irá perder diversas oportunidades de aumentar sua lucratividade. 
Exemplo: EZTC3 - em janeiro de 2010 a empresa deixou um sinal de topo, após uma forte alta de mais de 400% desde a crise. Muitos investidores venderam dizendo que o ativo iria recuar forte depois disso. Mas não foi o que aconteceu. O ativo lateralizou por alguns meses, mas, em  menos de um ano depois deste topo, a cotação se valorizou mais de 65%.

Caixa na reserva - Imagine a seguinte situação: você é um técnico de futebol, o seu time está disputando a final de um campeonato. O time adversário teve um jogador expulso no início do segundo tempo e o principal jogador deles se contundiu. E no seu banco de reservas você tem aquele jogador coringa, um atacante goleador, que está em um grande momento. Nestas horas, onde o panorama passa a ser favorável, é de extrema importância ter uma carta na manga. E nos investimentos ocorre a mesma coisa. De junho a outubro de 2008, o Ibovespa caiu mais de 50%. E se você investidor estivesse 100% comprado, sem nenhum dinheiro reserva para fazer novos aportes? Teria perdido grandes pechinchas na promoção relâmpago da bolsa. E a noticia boa é a seguinte: estas promoções não são comuns, mas acontecem! Então, esteja preparado e tenha uma parte de seu capital investido fora do mercado de ações. Em um momento favorável, onde a bolsa está em uma boa tendência de alta e o cenário macro econômico está tranquilo, diria para ter pelo menos 15% do seu patrimônio investido fora das ações, seja em Tesouro Direto, Fundos Imobiliarios ou CDBs. Em um momento de crise, onde o mercado lhe oferece a oportunidade de comprar empresas com bons fundamentos a preço de banana, este capital reserva será de extrema valia para alavancar os seus resultados.

Emocional - De que adianta o investidor elaborar toda sua estratégia, fazer as análises das empresas, montar sua carteira, se depois, ao primeiro sinal de turbulência do mercado, se desesperar e fugir do seu plano. Se o investidor não estiver preparado emocionalmente, e aceitar que o mercado é irracional, principalmente no curto prazo, além de perder ótimas oportunidades, não irá ter sucesso no seu foco de longo prazo. Um dos principais comportamentos que destaco é a disciplina. Segundo Lueders: "O investidor deve ter a capacidade de seguir investindo nas melhores opções, independentemente do que a massa de integrantes do mercado esteja fazendo. É mais confortável investir conforme a multidão, mas no longo prazo o que vale não é seguir esse movimento, e sim ter escolhido as empresas corretas. As massas vão e vem, e podem escolher um dos ativos que compõem sua carteira para ser o próximo centro das atenções".

Termino este artigo deixando outra frase para reflexão, esta do livro do Sun Tzu, Arte da Guerra, cujos ensinamentos podem ser aplicados em diversos ambientes diferentes:
"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas."


4 comentários:

  1. Parabéns por mais um artigo publicado!
    Abraço.

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  2. Excelente, Cadu!

    Mais um Artigo de notável qualidade!

    Parabéns!

    Abs,

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  3. Opa! Estive em pequenas férias esses dias e, no retorno, me deparei com essa grata surpresa: mais um belo artigo.

    Valeu, Cadu - Parabéns!

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  4. Muito bom comentário, Já li o livro de Sun Tzu, um clássico da literatura mundial. A bosa é uma guerra em sentido ampliado. Devemos estudar muito, mas muito mesmo para sermos bem sucedidos. Muita saúde a todos.

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